Amor na perspectiva de uma garota gorda
O amor é realmente igual quando você é diferente da maioria das garotas da sua idade?
Quando pensamos em amor, muitas vezes ele vem acompanhado de cenas de filmes românticos, novelas e histórias sobre casais que enfrentam brigas, mas sempre se reconcilia. Lembramos dos nossos pais juntos (nem sempre), ou de casais que vemos ao nosso redor. Às vezes, as lembranças são dolorosas: as brigas dos pais, a tia solteira há anos, ou o casal de filme que se separa, e a dor da solidão é apresentada como algo devastador, quase como se fosse o pior dos sofrimentos. A ideia de que todos devemos encontrar um amor para passar a vida inteira juntos, com as lápides lado a lado na eternidade, é constantemente transmitida a nós, como se fosse a única forma legítima de felicidade.
Desde a infância, especialmente para as meninas, ouvimos histórias sobre o amor ideal: o príncipe encantado, o casamento perfeito, os filhos e a promessa do "felizes para sempre". Mas e quando você não se encaixa nesse padrão? E se você for gorda? Será que também terá o direito de viver esse amor ideal? O que acontece com as meninas que não têm o corpo magro, o cabelo liso, a delicadeza que parecem ser os únicos requisitos para se ser amada?
Quem cresce gorda aprende cedo a se isolar. Começa a evitar as piadas e os olhares julgadores, e, em algum momento, começa a se perguntar por que não consegue ser como as outras meninas, as que se encaixam nos padrões. Logo, se vê como um "problema", como alguém que não é suficiente. Você começa a achar que não é feminina o suficiente, que tem algo de errado com você. E com isso, cresce com a sensação de que o amor – o amor ideal, o amor dos filmes – está distante, fora do seu alcance. Porque quem vai querer uma menina gorda?
Na infância, você não vive os primeiros romances. Do tipo andar de mãos dada ou receber uma cartinha. Quando chega à pré-adolescência, percebe que muitas já tiveram o primeiro beijo, enquanto você ainda espera. E o pior: o mundo parece reforçar a ideia de que ninguém vai querer te beijar, ninguém vai querer estar com você. E é aí que a barreira invisível se forma, como se o amor fosse algo reservado para as que atendem ao padrão.
Com a adolescência, a pressão sobre a aparência se intensifica. O mundo das dietas se torna parte da sua rotina. Você vai ao endocrinologista, e ele diz que está com sobrepeso. A nutricionista também te julga, dizendo que você precisa emagrecer. A mensagem é clara: você não está “normal”. E, com isso, vem a culpa – culpa por não se encaixar, culpa pelas olhadas julgadoras, a culpa por ser gorda, a culpa por existir. O peso passa de ser só físico, vira algo emocional também.
Você começa a fazer dietas restritivas, a parar de comer. O controle sobre a alimentação se torna uma obsessão. A cada dia, você se priva mais e mais, buscando por algo que te faça se sentir aceita, bonita, digna de amor. Mas, nada parece funcionar. Na internet, você encontra promessas de remédios milagrosos, dietas rápidas, mas nada disso faz você se sentir melhor. Enquanto suas amigas têm paqueras, saem com os meninos, você se vê cada vez mais afastada, sem entender o que há de errado com você. Os meninos se tornam apenas amigos, porque, afinal, quem vai querer uma garota gorda? No ensino médio, todos já estão em relacionamentos, enquanto você nunca sequer teve o seu primeiro beijo, nem um lance com alguém.
Você começa a parar de comer por dias, faz dietas cada vez mais severas, sabe até quantas calorias tem uma maçã. Os transtornos alimentares se instalam e, quando comete um deslize, se sente um fracasso. O tempo passa, e o medo só aumenta. Você se vê evitando situações cotidianas: sair de casa, ser fotografada, até sentar no sofá, temendo que o peso do seu corpo afunde o estofado. Tudo isso se torna um fardo. E, no fundo, você sabe: a dor não é só física. A dor de não se sentir digna de ser amada, de ser vista como você realmente é, é a mais difícil de carregar.
Você pode até viver um romance, mas nunca vai se sentir digna dele. Vai sentir que precisa emagrecer primeiro, como se a aceitação do outro dependesse do seu corpo estar dentro de um padrão. Vai se sentir culpada por cada refeição, e essa culpa vai fazer você comer mais, entra em um ciclo vicioso de negação e automutilação emocional. Você conhece alguém, se envolve, mas logo o medo surge. O medo de que, quando ele te ver pessoalmente, ele queira fugir, que vá contar para os amigos e te zoar. O medo de ser rejeitada por algo tão superficial, como o seu corpo, vai se tornar um peso constante em sua vida. E, em algum momento, você começa a questionar: será que esse amor é para você? Será que o mundo, com todas as suas regras, vai te permitir viver essa história? Ou você está destinada a ficar de fora, apenas assistindo, sem jamais sentir o que é ser verdadeiramente amada, não por um corpo, mas por quem você é?
Esse é simplesmente o MELHOR texto que eu já li aqui; sinceramente, teria chorado se não tivesse ficado em choque quando li. Obrigada por compartilhar algo tão íntimo.
É assustador como têm temas os quais a gente não leva em conta no dia a dia e é realmente um "bum". Acho que não percebemos isto porque hoje normalizaram ser preconceituoso; mas, de verdade, amiga, eles são patéticos. Li uma frase que era "não se apaixone por corpos. Eles apodrecem. Se apaixone por almas, você as encontrará novamente" -não era bem assim que estava escrito, mas era essa a essência!! O que quero dizer é que vai aparecer este amor e que você é muito mais do que isto que virá. Não sei se te conforta eu falar isso, mas dei meu melhor.
Um bom resto de semana
Esse tema foi perfeito. É incrivel ler um texto tão impactante